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Considero interessante olhar para a pertinência da utilização da metodologia por competências na educação do ponto de vista da evolução social do que da simples evolução dos processos de ensino e de aprendizagem.
Como sabemos, vivemos numa sociedade de transição: a transição de uma sociedade industrial para uma sociedade pós-industrial, convencionalmente chamada de sociedade do conhecimento e das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC).
Ora como diz Roque et al (2004), a era industrial, caracterizada por uma economia nacional baseada na extracção dos recursos naturais e onde a actividade produtiva era a alavanca do desenvolvimento, trouxe benefícios para a humanidade como o crescimento económico, melhoria da qualidade de vida para muitas pessoas, o alargamento do ensino, mas trouxe também muitos malefícios. Desde já a escassez dos recursos naturais, a fome, as desigualdades sociais, mas também a explosão demográfica e a poluição. Sem esquecer que nessa era aconteceram duas grandes guerras mundiais. Daí que, ainda segundo Roque et al (2004), as muitas pessoas que beneficiaram do alargamento do ensino formaram uma massa crítica e começaram a questionar este tipo de sociedade e este tipo de desenvolvimento, que trazia consigo muitas desgraças. E é exactamente após a segunda guerra mundial que se começou a notar indícios de uma transição social, que se convencionou chamar de sociedade pós industrial marcada por uma economia a escala mundial e onde o conhecimento e as TIC passam a ser predominantes.
Doravante, a sociedade começou a “exigir” um novo tipo de cidadão; um cidadão capaz de se adaptar a esta mudança e contribuir para a construção de uma sociedade desenvolvida sim mas sustentável e mais tolerante as diferenças. Sendo assim, é necessário um cidadão que sabe relacionar-se com o outro na base da cooperação e da compreensão das diferenças evitando os conflitos, um cidadão com cultura da paz, com consciência ambiental, mas que seja também activo, autónomo, determinado e empreendedor para poder competir nesse mundo global, um cidadão que sabe utilizar as TIC para poder ter acesso a informação e ao conhecimento, e que mais do que saber deve ter capacidade de utilizar seus conhecimentos, habilidades e atitudes para aprender ao longo da vida e resolver por si os seus problemas.
Portanto, é este o desafio que a sociedade actual lança a comunidade educativa: a formação de um novo cidadão, de um cidadão com essas novas competências. Mas para as escolas corresponderem a este desafio é necessário mudar o processo de ensinar e de aprender, porque o modelo objectivista utilizado na era industrial não serve para formar essas competências. Por exemplo, nesse modelo privilegia-se a transmissão unilateral de informações do professor para o aluno, não dando o aluno muitas oportunidades de desenvolver a autonomia, o espírito activo, a responsabilidade pela sua aprendizagem, para além disso é um modelo que cria vícios no aluno, designadamente o vício de estudar apenas a escassos dias do teste sumativo para memorizar as informações e despejar no teste, isto porque os testes sumativos têm demasiado peso na avaliação. Só que depois de fazer o teste a tendência é o aluno esquecer essas informações que estudou e principalmente não os consegue utilizar na vida real para resolver problemas. Portanto é um modelo que privilegia mais a memorização e não a reflexão e o treino da capacidade de transferência de conhecimentos.
De forma que, é necessário passar-se a utilizar um modelo construtivista baseado no desenvolvimento de competências. Um modelo que não preocupa tanto com a memorização de uma infinidade de conhecimentos meramente informativos, mas que privilegia o desenvolvimento da capacidade metacognitiva que vai permitir ao aluno saber utilizar os seus conhecimentos prévios para aprender mais com as suas experiências ao longo da vida, e para resolver problemas reais. Os saberes disciplinares vão continuar a ser necessários na formação do aluno, só que em vez de serem um fim vão passar a ser utilizados como um meio para o desenvolvimento das competências necessárias para que o cidadão possa actuar de forma eficaz na sociedade.
Daí a pertinência da utilização da metodologia de desenvolvimento de competências desde a escola, e a necessidade sentida por organismos internacionais como a UNESCO, OCDE, e a própria EU para definirem quadros conceptuais de competências para servirem de orientação às escolas. Exemplo de competências definidas pela UNESCO como nós sabemos são: aprender a conhecer, aprender a viver juntos, aprender a fazer e aprender a ser.
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