domingo, 9 de agosto de 2009

Minha Selecção de Competências

Na base das justificativas apresentadas pelos autores e principalmente pelos organismos internacionais como a UNESCO, OCDE e UE, sobre a importância de dotar as pessoas de um conjunto de competências básicas que lhes permitam adaptar-se às mudanças sociais e terem uma bagagem cognitiva que lhes permita aprender ao longo da vida, defini para uma experiencia “Portfólios Digitais Como Recursos e Estratégia para o Desenvolvimento de Competências” com meus ex-alunos do 9º ano quatro competências básicas que achei serem as fundamentais para aquela experiência.

Essas competências foram definidas depois da análise das propostas apresentadas pela UNESCO, OCDE e UE, mas cujos nomes atribuídos acabaram por ser diferentes das desses organismos na tentativa de exprimir e realçar as suas características mais importantes.

Defini as seguintes competências:

1. Atitude Reflexiva
Esta competência tem a ver com aprender a conhecer definida pela UNESCO, ou aprender a aprender na óptica da UE e que encontra ressonância no que a OCDE diz no seu relatório DeSeCo quando considera a reflectividade como o coração das competências-chave porque “implica o uso de capacidades metacognitivas (pensar sobre pensar), de habilidades criativas e de assumir uma posição crítica” .

Atribuí este nome Atitude Reflexiva porque, para além da capacidade de compreensão e memorização, isto é, de aquisição de conhecimentos, queria destacar a reflectividade como sendo uma actividade fundamental para desenvolver as capacidades metacognitivas de uma pessoa e dar-lhe assim maiores capacidades para aprender a aprender, isto é, para utilizar os seus conhecimentos prévios para aprender algo novo, para aprender a partir das suas experiências. Também queria destacar a reflectividade como sendo uma actividade necessária para a pessoa treinar a mobilização dos seus conhecimentos para enquadrar ou compreender uma dada situação da vida real.

As estratégias que defini para os aprendentes desenvolverem esta competência é exactamente a reflexão. Aliás, tomei a reflexão como a actividade central de toda a experiência, por a considerar um excelente exercício, não só para treinar a capacidade de raciocínio e de mobilização de competências, mas também para o aprendente tomar consciência do seu estado de aprendizagem e poder melhorá-lo, permitindo ao professor perceber o que deve fazer para ajustar ou regular as estratégias de ensino. Portanto, considero que a Atitude Reflexiva é uma das principais competências que se deve desenvolver nos aprendentes por contribuir para desenvolverem a tal capacidade de aprender ao longo da vida, que tanto os organismos internacionais como a UNESCO, OCDE e a UE consideram importante e que os levou a propor a metodologia por competências como uma alternativa à metodologia tradicional, apesar, obviamente, de sabermos que todas as competências são fundamentais e que estão todas relacionadas umas com as outras. Assim, os aprendentes desenvolveriam esta competência reflectindo sobre os seus trabalhos produzidos, sobre o processo de aprendizagem e também através de resolução de pequenos problemas.

2. Autonomia e auto-estima
Esta competência relaciona-se com aprender a ser definida pela UNESCO e actuar autonomamente na acepção da OCDE, e de certa forma vai de encontro à competência espírito de iniciativa e espírito empresarial definida pela UE. Portanto, tem a ver com a pessoa tomar as rédeas da sua vida e assumir e responsabilizar-se pelas suas acções. Tem a ver com a pessoa ter confiança em si mesma, estar preparada para elaborar e conduzir os seus próprios projectos de vida, mas também ser uma pessoa que se respeita a si e aos outros e que tem boas atitudes perante a vida (cultura da paz, cidadania, consciência ambiental) e as pessoas.

Ao atribuir este nome, isto é, juntar auto-estima a autonomia, queria realçar a cumplicidade entre estas duas componentes, já que uma implica necessariamente a outra para se efectivarem. Para se ser autónomo é necessário ter-se auto-estima para assumir as próprias ideias e levá-las à frente ou para ir contra as más influências dos outros. Como aliás diz a OCDE no projecto DeSeCosobre a competência de actuar autonomamente: é preciso que os indivíduos consigam dirigir as suas vidas de forma significativa e responsável, e desenvolvam uma identidade independente e fazer escolhas próprias e não apenas “just follow de crowd”, deixar-se levar pelas ideias e influências dos outros.

Para além disso, queria que os aprendentes apercebessem, de forma clara, a auto-estima como uma competência necessária que devem desenvolver. Porque na sua idade o grupo de pares exerce uma influência forte sobre eles e também são mais vulneráveis à publicidade e a outras influências, e portanto se não tiverem a auto-estima suficientemente desenvolvida podem deixar-se influenciar e cair nos flagelos sociais como as drogas, o alcoolismo e o tabagismo (conteúdos da experiência).

Escolhi esta competência por estar relacionada com o desenvolvimento da autonomia do aprendente na construção da sua aprendizagem e de um espírito activo e empreendedor que lhe vai permitir participar de forma efectiva no desenvolvimento da sociedade. Isto é, contribui para que o indivíduo possa lutar pelo sucesso pessoal e social.

A estratégia que defini para levar os alunos a desenvolverem esta competência foi, por um lado, motivá-los a assumirem a responsabilidade da sua aprendizagem e, por outro lado, através de actividades de investigação, designadamente da pesquisa na Internet das informações necessárias à sua auto-aprendizagem e da visita de estudo. A visita de estudo, que foi realizada a um centro de reabilitação de toxicodependentes, para além de servir para recolherem eles próprios informações no campo, tinha como principal objectivo reforçar nos aprendentes a auto-estima como uma arma de combate aos flagelos sociais. Através dos depoimentos dos internos, eles aperceber-se-iam da importância de não se deixarem influenciar negativamente, de confiarem em si próprios e de encontrarem formas saudáveis de expressar a sua alegria e de lidar com os problemas da vida.

3. Relacionamento Interpessoal e ComunicaçãoEsta competência foi inspirada na competência aprender a viver juntos definida pela UNESCO, na competência actuar em grupos heterogéneos definida pela OCDE, e de certa forma nas competências sociais e cívicas determinadas pela UE. De forma generalizada tem a ver com aprender a relacionar-se com o outro e mesmo compreender e ser tolerante perante as diferenças do outro e assim poder estabelecer uma convivência sem conflitos ou, se necessário, poder estabelecer uma relação de colaboração de forma a realizar um objectivo comum.

Escolhi esta competência por a considerar importante para os aprendentes desenvolverem o espírito de colaboração e de trabalho em equipa e o espírito de generosidade. Na sociedade, principalmente no mundo do trabalho, é uma competência necessária para o indivíduo manter o emprego e partilhar experiências e aprender com as experiências dos outros.

Jacques Delors, comentando os Quatros Pilares da Educação da UNESCO, aponta como uma das estratégias para se desenvolver esta competência a participação em projectos comuns. Adoptei o trabalho de grupo que pode iniciar os aprendentes na aprendizagem de que é preciso ultrapassar as barreira das diferenças, resolver os conflitos, para se poder estabelecer uma relação de entendimento e de colaboração para o bem do grupo, do todo.

Atribuí este nome, Relacionamento Interpessoal e Comunicação, porque, primeiro, relacionamento interpessoal pareceu-me mais próximo do entendimento dos aprendentes e dá a ideia de um relacionamento que vai para além dos grupos de trabalho, com qualquer outra pessoa. Em segundo lugar, juntei a palavra comunicação porque entendo que para um efectivo e bem sucedido relacionamento as pessoas precisam saber expressar a suas ideias e comunicar com o outro. Aqui, saber comunicar não significa apenas fazer-se entender, mas saber escutar os outros, saber respeitar e valorizar as ideias dos outros, e saber como comunicar adequando a forma de se comunicar ao contexto.

4. Utilização das TIC
Esta competência encontra ressonância no aprender a fazer definida pela UNESCO, na competência utilizar ferramentas interactivamente da OCDE e na competência Digital segundo a UE. No geral tem a ver com aquilo que diz a UE: “é sustentada pelas competências em TIC: o uso do computador para obter, avaliar, armazenar, produzir, apresentar e trocar informações e para comunicar e participar em redes de cooperação via Internet” (Quadro de Referência Europeu).

A utilização das TIC também teve um lugar preponderante na nossa experiência porque todos os trabalhos produzidos pelos aprendentes foram feitos de forma digital. Desde a procura das informações através da pesquisa na Internet, ao seu tratamento, a produção do artefacto, a organização do portefólio e a reflexão. Portanto a utilização das TIC na nossa experiência teve a ver com utilizá-las para obter, avaliar, armazenar, produzir, apresentar e trocar informações.

O aprender a fazer intrínseco a esta competência está relacionado com aprender a utilizar a Internet para ter acesso a informação; aprender a utilizar o processador de texto Word para transformar a informação em conhecimento, designadamente através da produção de sínteses em forma de carta e de relatório, e consequentemente de aprender a escrever correctamente; aprender a criar uma pasta no Windows; aprender a criar e utilizar um e-mail; aprender a criar e utilizar um blog com o Wordpress.

A escolha desta competência é uma escolha lógica já que a experiência se baseava na utilização de portefólios digitais. Mas também queríamos com isso dar importância à necessidade de desenvolver competências no domínio das TIC como forma de possibilitar uma melhor integração social e o acesso à informação e ao conhecimento.

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