Cabo Verde descobrindo a Metodologia por Competências

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Não é novidade nenhuma dizer que aqui em Cabo Verde continuamos a utilizar um paradigma educacional que se baseia no modelo pedagógico tradicional, muito preocupado com o cumprimento dos programas e na transmissão e acumulação de conteúdos disciplinares, principalmente no Ensino Secundário.

Os currícula ainda não falam na linguagem das competências, os professores ainda correm para cumprirem os programas e os alunos continuam bons ouvintes e menos bons autores das suas aprendizagens.

Com isso não quero dizer que nas escolas secundárias do nosso país não existem professores que tentam inovar a sua pedagogia. A verdade é que essa mudança de paradigma na educação deve tornar-se num desígnio nacional, deve acontecer “uma espécie de revolução cultural” como diz Philippe Perrenoud.

Contudo, Cabo Verde, timidamente, vai dando os primeiros passos em direcção a essa revolução. Como sabemos o país tem feito todo uma trajectória na busca de uma reforma do seu sistema educativo com o objectivo de acompanhar a revolução internacional que tem estado a acontecer no mundo da educação. Este trajecto tem-se traduzido, por um lado, na decisão de aumentar a escolaridade básica obrigatória de 6 para 8 anos, que está ainda em fase de experimentação; por outro lado, na introdução de novas áreas disciplinares inovadoras, como Direitos Humanos, Cidadania e Cultura da Paz, que são temáticas importantes para responder aos desafios da sociedade e que estão já nesta fase de experimentação, e a serem abordadas utilizando a metodologia por competências. E, finalmente, traduz-se na revisão curricular.

Sabemos que tem sido formados orientadores e conceptores de programas, que andam a trabalhar na revisão curricular do ensino básico e secundário, para adquirirem a bagagem necessária para trabalhar na revisão dos curriculas e dos programas.

Mas como disse, esses primeiros passos têm sido tímidos, isto é, quem está por dentro dessas mudanças são apenas as poucas pessoas envolvidas na revisão curricular. O que a maioria de nós sabemos é o que raramente passa na comunicação social, e que é o que já anunciei atrás. A ideia que se fica é que o país está fazendo essa adopção da metodologia por competências apenas como uma obrigação de acompanhar as inovações pedagógicas que andam a acontecer nos países mais avançados, quando isso deveria ser abraçado com toda a paixão e a crença nas mais valias que a utilização da metodologia por competências traz à qualidade do ensino.

O que quero dizer é que o país todo deveria estar a falar dessa adopção da metodologia por competências, das suas mais valias e implicações. Deveria haver palestras e debates nas escolas sobre o assunto, conferências abertas à participação da sociedade civil, promoção de debates nos fóruns do site do Ministério da Educação e de outras instituições ligadas a educação, publicitação e debates sobre o assunto na comunicação social, principalmente nos canais públicos. Pôr todo o mundo a falar sobre o assunto e informar as pessoas sobre o ensino por competências, principalmente professores e alunos, deveria ser um dos primeiros passos a serem dados, já que não se trata apenas de uma simples revisão curricular.

Portanto, Cabo Verde está apenas no começo de um longo caminho rumo à tal espécie de “revolução cultural” mencionada por Perrenoud. Faltarão os dispositivos legais, a formação e sensibilização dos professores, um melhor apetrechamento das escolas principalmente com laboratórios de informática, e algumas gerações de experiência para que professores e alunos comecem a tratar as competências por tu.

No entanto não poderia terminar este Post sem sublinhar a boa ousadia da Direcção Geral da Alfabetização e Educação de Adultos (DGAEA). Por mais estranho que pareça, o Subsistema de Educação Extra-escolar, sob a alçada da DGAEA, parece estar muito mais avançado do que o próprio sistema no seu todo. É que a DGAEA, que há muito tem utilizado uma pedagogia inovadora de educação a distância através da rádio, trabalhando os conteúdos na lógica de resolução de problemas, já elaborou um novo desenho curricular fundamentado no desenvolvimento de competências.