A questão das competências e da relação conhecimentos/competências está no centro de um certo número de reformas curriculares em muitos países como resposta às mudanças sociais que requerem um cidadão com um nível de educação cada vez mais alto (Fink), para como diz Burnier, corresponder aos desafios da complexidade da vida moderna, por exemplo, poder estabelecer relações interpessoais cada vez mais complexas, para contactar com uma abundância de informações, entre as quais informações científico-tecnológicas.
Daí que “confere-se à escola a missão prioritária de desenvolver a inteligência como capacidade multiforme de adaptação às diferenças e às mudanças” (Fink).
No entender de Chaves, a educação não tem sido orientada para o desenvolvimento de competências e habilidades nos alunos, mas sim para a absorção, por parte deles, de conteúdos informacionais: factos, conceitos e procedimentos.
Chaves (2000) acrescenta ainda que os currículos utilizados nesse tipo de educação não são centrados na análise e na tentativa de resolver problemas, mas sim em disciplinas com conteúdos meramente informativos, e que, em geral, são apresentadas aos alunos de forma abstracta, totalmente desvinculada dos problemas fundamentais que um dia levaram o ser humano a se interessar por esse tipo de questão.
Para Perrenoud competência é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (atitudes, habilidades, conhecimentos) para solucionar com pertinência e eficácia uma série de situações.
Competência é uma construção mental e não a mera resolução de tarefas. Quem sabe fazer deve saber porque o faz dessa maneira e não de outra. Uma pessoa competente é “aquele que julga, avalia e pondera; acha a solução e decide, depois de examinar e discutir determinada situação, de forma conveniente e adequada. A competência exige o saber, o saber fazer e o ser/conviver (Martins).
Perrenoud diz que os alunos acumulam saberes, passam nos exames, mas não conseguem mobilizar o que aprenderam em situações reais, no trabalho e fora dele, porque na escola ensina-se por ensinar, não se dá ao trabalho de trabalhar suficientemente a transferência e a mobilização.
Este autor defende que a falta de prática na mobilização das competências não é dramática para as pessoas que continuam a estudar, mas que se torna grave para as pessoas que frequentam a escola somente por alguns anos. Por isso, o mesmo defende que o desenvolvimento de competências deve ser trabalhado durante a educação básica como uma preparação de todos para a vida, e exorta a comunidade educativa a não continuar a ver a educação básica como uma preparação para estudos longos.
Para Perrenoud muitos países cometem o erro de quererem fazer as reformas curriculares rápido de mais sem observar as práticas sociais, para identificar situações nas quais as pessoas são e serão verdadeiramente confrontadas. Perrenoud critica muitos países de se contentarem em colocar um verbo de acção à frente dos saberes disciplinares, na ideia de estarem a fazer uma reforma dos programas tradicionais. Para este estudioso a descrição de competências deve partir da análise de situações, da acção, e disso derivar conhecimentos.
Portanto, pensar na educação orientada por competências é não pensar apenas em dotar os aprendentes de conhecimentos, mas capacitá-los, transformá-los em pessoas críticas, reflexivas, sociáveis, capazes de intervir na sociedade, de resolver problemas e tomar decisões. Os conhecimentos são úteis sim, mas só se o aprendente souber utilizá-los de forma eficaz. E para saber utilizá-los ele tem de ser uma pessoa que sabe pensar, e uma pessoa de mente aberta, compreensível, de boa vontade, motivada, com atitudes positivas perante a vida e as pessoas. E o conhecimento relacionado com essas atitudes torna-o capaz de tomar decisões adequadas, capaz de saber fazer. Um saber fazer que pode ser também aperfeiçoado com experiências práticas baseadas em casos reais.
Portanto, o conceito de mobilização está muito associado à ideia de competência. Porque esta, segundo Lino Machado (in Perrenoud et al, 2002), não é um conhecimento ”acumulado”, mas a virtualização de uma acção, a capacidade de recorrer ao que se sabe para realizar o que se deseja, o que se projecta.
Utilizar uma metodologia baseada em competências significa mudar o processo de ensino e aprendizagem da simples transmissão e memorização de saberes para uma orientação e desenvolvimento da potencialidade de raciocinar, decidir e fazer em diferentes contextos, através da mobilização de saberes, capacidades e atitudes.
E para desenvolver competências, isto é, a destreza em mobilizar conhecimentos, atitudes e habilidades, é necessário que o processo seja organizado através de projectos e resolução de problemas baseados em situações próximas da realidade do aprendente, para que na prática, isto é, na sua actuação na sociedade possa saber como actuar para solucionar uma situação real.
Na escola estas actividades devem ser organizadas de certa forma que propiciem aos aprendentes a aquisição de conhecimentos, o desenvolvimento da autonomia, da auto-estima, de valores, da capacidade de relacionamento interpessoal, de comunicação, da capacidade de reflexão e transferência de conhecimento, da capacidade de decidir ou executar, e de utilizar as TIC.
É reconhecendo toda a pertinência e necessidade das escolas evoluírem para este método de desenvolvimento de competências, que permite uma formação mais completa do cidadão e lhe possibilita uma participação mais eficaz na sociedade, que vários organismos internacionais (UNESCO, OCDE, EU) se envolveram em projectos para a definição de quadros conceptuais que pudessem orientar as escolas na implementação deste modelo de desenvolvimento de competências.
domingo, 9 de agosto de 2009
Introdução - Pertinência da Metodologia por Competências
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Sou Wladimir, instrutor do SENAI-RO , e estudei metodologia por competência na Alemanha.
ResponderEliminarA metodologia por competência está relacionada ao comportamento humano, é a transferência de experiência de vida do professor para o aluno.
O professor não pode simplismente transferir conhecimentos teóricos e práticos,mas um conjunto de comportamentos que levam o aluno ao sucesso profissional.
Se o professor não for competente de fato, não há como trabalhar com a metodologia por competência.
A grande barreira para implantar essa metodologia, é que o professor não pode trabalhar com mais de dez alunos, o que impossibilita economicamente sua implantação.
Mas é o caminho a se seguir, a própria palavra já se diz "competência", devemos ser capazes de achar meios de torna-la viavel.